Entre os dias 23 de junho e 4 de julho, o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN) sediou o renomado curso “Nems - Nuclear Energy Management School”, mantido pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), principal organização de segurança nuclear no mundo. Esta é a primeira vez que este programa acontece no Brasil, que é um país-membro da agência, e na América Latina.
O NEMS tem o objetivo de treinar futuras lideranças nos países integrantes da AIEA, para atuarem na gestão de programas de energia nuclear e aplicações nucleares, sendo especialmente direcionado a jovens profissionais que planejam desenvolver ou estão em processo de iniciar um programa de desenvolvimento nuclear:
"Os alunos que participaram do NEMS não apenas saem mais preparados — eles se tornam agentes de transformação. São capacitados para assumir papéis de liderança técnica, regulatória, diplomática e institucional no desenvolvimento de programas nucleares seguros, sustentáveis e alinhados com os objetivos nacionais e internacionais", explicou Dra. Maria de Lourdes Moreira, que coordenou o curso no IEN/CNEN.
Durante as duas semanas de curso, os alunos, que representavam instituições científicas e nucleares do Brasil, da Argentina e da Colômbia, receberam da AIEA conhecimentos em áreas relevantes para todo o ciclo de vida da energia nuclear, como o licenciamento e regulamentação, política de energia nuclear, cultura de segurança, ciclo do combustível nuclear, proteção e salvaguardas, aplicações científicas usando tecnologia nuclear, entre outras temáticas.
Esses conteúdos foram transmitidos por especialistas da própria AIEA: Alesia Iunikova, que atua na área de Gestão do Conhecimento da agência; Lisa Lande, da Divisão de Energia Nuclear; Didier Ohayon, consultor de clima e energia da organização; Asfaw Katherine Elizabeth, chefe da Seção de Coordenação de Programas e Estratégias da AIEA; e Amparo Gonzalez Espartero, Líder da Equipe de Gestão de Combustível Irradiado da AIEA.
Além desses, houve a participação de especialistas de instituições brasileiras do setor nuclear a ministrar aulas:
- Dr. Leonam Guimarães, coordenador do Comitê de Ciência e Tecnologia da Amazul e diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN);
- Dr. Pedro Maffia, diretor de Gestão Institucional da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);
- Dr. Paulo Augusto Berquó de Sampaio, pesquisador e ex-diretor do IEN/CNEN;
- Dr. Francisco José de Oliveira Ferreira, chefe da Divisão de Engenharia Nuclear (DINUC/IEN);
- Dra. Nélbia da Silva Lapa, coordenadora de Reatores da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS) da CNEN;
- Dra. Daniele de Azevedo Baêta, chefe substituta do Serviço de Instalação do Ciclo de Combustível Nuclear;
- Dr. Eduardo de Melo Ferreira e Dra. Gleyce da Costa, especialistas em Inovações e Negócios da CNEN;
- Dr. Daniel Palma, tecnologista sênior da CNEN;
- Dr. Raul dos Santos, chefe da Divisão de Emergências Radiológicas e Nucleares do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/CNEN).
Os pesquisadores dos Laboratórios de Interfaces Humano-Sistema (Lahbis/IEN) e de Realidade Virtual (LabRV/IEN) tiveram a oportunidade de demonstrarem para os alunos os projetos que cada setor desenvolvem em favor da divulgação científica e aperfeiçoamento das simulações em operações de reator.
A turma do NEMS ainda recebeu, logo no início das atividades no IEN/CNEN, a visita do Diretor Geral Adjunto e Chefe do Departamento de Cooperação Técnica da AIEA, Hua Liu, que estava realizando sua primeira agenda técnica no Brasil no exercício dessa função, e aproveitou o momento para motivar aqueles que pretendem seguir carreira na área nuclear.
Visitas às usinas e demais instalações nucleares do Brasil
- Fábio Junqueira, engenheiro metalúrgico do INB, explicando para a turma do NEMS sobre o trabalho no Laboratório de Componentes e Montagens na empresa. Foto: Comunicação do INB.
O treinamento do NEMS também previa que os alunos tivessem a oportunidade de conhecer alguns dos principais núcleos de produção e pesquisa do setor nuclear localizados dentro do estado do Rio de Janeiro, como o Reator Argonauta, primeiro reator de pesquisa construído com matéria-prima nacional e por engenheiros brasileiros, abrigado no IEN/CNEN, e que em 2025 completou 60 anos da sua primeira criticalidade. Eles foram informados sobre as principais entregas do Argonauta na atualidade e como funciona todo o seu processo de operação e monitoramento.
O grupo esteve ainda em Resende, no sul fluminense, para visitar a sede das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), empresa estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), que exerce o monopólio da mineração de elementos radioativos e da produção e comércio de materiais nucleares. Engenheiros do INB conduziram o grupo para o Laboratório de Componentes e Montagens de Equipamentos e a Fábrica de Combustível Nuclear, local onde a empresa realiza o processo de enriquecimento de urânio em escala industrial, e também de reconversão e produção de pastilhas.
- Visita dos alunos do NEMS às instalações da Usina de Angra 2, em Angra dos Reis-RJ. Foto: Eletronuclear
Por fim, os participantes do NEMS visitaram a Central Nuclear da Usina de Angra 2, que está em atividade desde 2001, onde foram apresentados ao simulador da usina, ferramenta que reproduz virtualmente o funcionamento da usina, o edifício da turbina e o observatório nuclear, uma área para visitação gratuita que apresenta, de forma interativa, informações a respeito da geração de energia a partir de reatores nucleares, da história da energia nuclear no Brasil e das normas de segurança cumpridas pela Eletronuclear com a sociedade e meio ambiente.
Perspectivas de novas parcerias com a AIEA
No último dia de atividades do curso, os alunos foram submetidos a uma prova, que avaliou todo o conhecimento adquirido ao longo do NEMS, e receberam uma certificação que os capacita a liderar projetos de desenvolvimento nuclear.
Para Alesia Iunikova, a edição brasileira do NEMS atendeu a um público com aptidões diversas, de diferentes organizações, e que o desafio foi atender às necessidades de todas as categorias dos participantes do curso. A avaliação geral, segundo ela, foi positiva, considerando a localização do IEN/CNEN e o trabalho de organização para a realização do treinamento e para o deslocamento dos participantes às instalações de outras unidades de produção nuclear:
“Fomos fortunados de ter visitas ao INB e de aprender sobre a experiência dessa empresa. Tivemos uma visita à Angra e estamos muito impressionados como tudo é organizado e como as pessoas abordam as lições aprendidas dos diferentes incidentes ao redor do mundo. Então, acho que foi um sucesso, e fomos capazes de abordar as necessidades de todas as pessoas. Espero que, no futuro, tenhamos a oportunidade de repetir o curso aqui”, afirmou Alesia.
A especialista da AIEA declarou que o Brasil possui competências concentradas em áreas como pesquisa, ciclo de combustível, operação de plantas nucleares, e que essas expertises do país foram aproveitadas pela agência e transmitidas para os participantes ao longo de todo o treinamento.
Além da pesquisadora Maria de Lourdes Moreira, a coordenação do curso nessa unidade técnico-científica da CNEN ficou a cargo do chefe do Setor de Capacitação (SECAP/IEN), Alexandre Machado. Ambos destacaram que a realização do NEMS no instituto acentua a competência técnica e institucional do IEN/CNEN no cenário nuclear internacional e amplia a possibilidade para futuras iniciativas conjuntas com a Agência Internacional de Energia Atômica:
“Ao sediar um evento dessa relevância, que contou com a participação de especialistas reconhecidos internacionalmente, tanto da AIEA quanto do Brasil, o IEN/CNEN reforça seu papel como centro de excelência na formação de recursos humanos para o setor nuclear. Essa iniciativa amplia significativamente nossa responsabilidade na promoção do uso seguro, sustentável e pacífico da energia nuclear. Temos a expectativa de fortalecer ainda mais essa parceria com a AIEA, por meio da realização de novos cursos, projetos de cooperação técnica e outras iniciativas voltadas à capacitação e à inovação tecnológica na área nuclear”, afirma a Dra. Maria de Lourdes.
“O curso foi de uma importância muito grande para dar visibilidade ao IEN/CNEN, em um momento relevante como o da criação de um centro de treinamento aqui (o Centresf), que deve ter a AIEA como uma forte parceira”, declarou Alexandre.
O chefe do SECAP/IEN acrescenta que a realização do curso exigiu muitas demandas para a organização, mas que o IEN/CNEN conseguiu cumpri-las dentro do tempo estabelecido e que tanto a AIEA quanto os treinandos ficaram satisfeitos com a estrutura e atendimento.
Escrita por: José Lucas Brito (Setcos/IEN)